• Caetité, pequenina mas ilustre – Por Luzmar Oliveira

    05/06/2014 - 16:08


    CAETITÉ

    E nos anos sessenta...

     

    A Caetité dos anos sessenta era quase uma vila. Mas não vamos hoje falar de números nem de fatos históricos, mas sim de situações, coisas, lugares, lembranças. Vamos nos relembrar da Praça da Catedral.

     

    No início da década havia, na Praça da Catedral, um Clube. O Clube Social. Ficava à direita do Caetité Hotel ou Hotel de Dona Afra e à esquerda da Casa de Anísio Teixeira. Ali se realizavam todos os bailes da cidade, incluindo carnaval, formatura e debutantes. Composto de dois andares, embaixo havia um salão de dança e a área do bar. Em cima, na frente, uma pequena varanda. Ali era uma espécie de palco onde, em dias de desfiles cívicos do Instituto de Educação Anísio Teixeira – IEAT, estudantes e professores diziam suas falas, sendo discursos ou poemas. Na rua, em frente ao mesmo, os alunos devidamente fardados ou vestidos alegoricamente de acordo com a data, assistiam perfilados em pelotões, em posição de “descanso”. Eram dias de gloria!

    Seus bailes eram brilhantes! Nos de debutantes as adolescentes desciam a escada de metal circular e eram recebidas pelos cavalheiros com quem dançariam sua primeira valsa. E os carnavais eram regados a lança perfumes e muita serpentina e confetes. E ainda havia as famosas “mesas zero”, ou seja, as janelas! Quem não tinha permissão para adentrar o salão, assistia tudo nesses camarotes improvisados que ficavam superlotados! Os bailes ali realizados jamais se apagarão da memória dos que habitavam a terra de Waldik Soriano.

     

    E por falar em Waldik, o mesmo cantou algumas vezes em um prédio um pouco acima, o nosso famoso, lindo e eternamente saudoso Teatro Centenário. Naquela casa assistimos inúmeras peças de teatro, comédias, shows de calouros, musicais e depois cinema...

     

    A praça é aladeirada. Na parte mais baixa, onde hoje há um lindo jardim, havia um outro “jardim”. Meio triangular ou trapezoidal. Um passeio largo o circundava e em intervalos regulares havia bancos de cimento com recosto, tendo em cada um, o nome dos doadores. Ah! Ai é que rolava a verdadeira diversão! Casais de namorados que arrulhavam como pombinhos, grupos de amigos espalhados no assento, no recosto e no chão ao redor dos mesmos. E haja conversas, causos, piadas e músicas! Ali se encerrava uma espécie de lugar mágico onde tudo podia acontecer! Até algumas moçoilas cobrando aluguel pelos bancos com os nomes de suas famílias! Ah! E o vai e vem das “meninas” paqueradoras e os “garotos” parados em grupos ou sentados, fazendo galanteios e alegrando ainda mais aquelas noites tão especiais. Naquele tempo dávamos a isso o nome de “flerte”.

     

    Às vezes um comentava ao ver três ou quatro amigas passando de braços dados: “A mais bonita é a de sapatos vermelhos!”. E elas olhavam imediatamente para os pés, descobrindo que se tratava de uma agradável brincadeira, pois nenhuma estava usando aquela cor. Mas quantos namoros surgiram naquelas noites, naqueles vai-e-vem, resultando até em casamentos e filhos?

     

    Na esquina da Dois de Julho havia o escritório do Sr. Zuza, o milionário excêntrico. Reza a lenda que o mesmo ficou rico após prender o “cramunhão” na garrafa. Quem tinha coragem de enfrenta-lo? Em anexo, a Banca de Revistas do seu filho Gessi.

     

    Do lado esquerdo, a Sorveteria Primavera, mais conhecida como “Sorveteria de Dominguinho”! Delícia das delícias! Point da cidade. Picolés e sorvetes de diversos sabores que faziam a alegria da garotada e da juventude. Ali gastávamos nossos centavos duramente economizados (não sei de que).

     

    No outro extremo do mesmo quarteirão, na “venda” do Sr. Otacílio, mais revistas nos esperavam. Ainda não havia televisão na cidade. Nossas novelas vinham em revistas em quadrinhos chamadas “Capricho”, “Grande Hotel”, “Noturno”, “Ilusão”, “Sétimo Céu” e “Contigo”. Eram as fotonovelas, geralmente italianas, que nos faziam sonhar com galãs como Jean Mary Carletto, Franco Dani, Franco Gasparri e ser estrelas como a belíssima Michela Roc. E passávamos horas com os olhos atentos nas fotos e histórias encenadas por todos eles. Nos mesmos moldes que a garotada sonha com os televisivos de hoje.

     

    Na nossa praça já havia pipoqueiros e pirulitos. E até circos. O Luso Brasileiro ficou tempos armado em frente à casa de Franco Fernandes. Nele havia o palhaço Garrafinha que nos fazia chorar ao declamar “A Fulô do Maracujá” e nos dava cólicas de risos ao cantar “Ai Marieta”! E outros tantos palhaços, acrobatas e domadores que eram a nossa diversão noite após noite. As famílias o freqüentavam e aplaudiam com alegria.

     

    Também na Praça, na esquina com a Barão, havia o encontro das procissões de Semana Santa, quando a imagem de Senhor dos Passos carregando sua pesada cruz cruzava com a de Nossa Senhora das Dores e as pregações nos faziam derramar lágrimas. E também toda a encenação do Cristo preso à cruz.

     

    Aquela era a nossa praça dos anos sessenta. Onde gregos e troianos se encontravam travestidos de loucos, doidos, certos, mais ou menos. Onde estudantes faziam quermesses com barracas espalhadas vendendo diversas coisas, inclusive beijos, para angariar fundos para a festa de formatura.

     

    Aquela era a nossa praça onde vivemos os melhores anos das nossas vidas e da qual trazemos uma saudade enorme. Onde amigos que ainda estão entre nós se encontravam com aqueles que já se foram para o outro lado, para a outra dimensão e nos fazem hoje sentir uma saudade que nem tem tamanho.

     

    E entre eles, estava Teka, nosso José Apolinário Oliveira Filho, o líder do conjunto que nos embalou na adolescência e juventude: Os Tártaros.  Teka acaba de tomar o trem de volta à pátria original. Mas deixou seu nome gravado nos anais de Caetité e, principalmente, nos corações dos seus contemporâneos que tanto dançaram ao som do seu conjunto. Teka, Zé de Cazuza e Rildo já se foram. Resta Mandinga e João de Deus que, em determinado momento, complementou o grupo. A todos eles a nossa homenagem!

     

    Luzmar Oliveira - [email protected]

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