• Coronavírus 7x1 Brasil: das praias lotadas aos paredões de som

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    Por Tiago Rego

    31/08/2020 - 20:00


    ARTIGOS

    - Há aproximadamente três meses, uma página de humor que eu sigo no Instagram divulgou um meme com a seguinte frase: “será que é só eu que estou de quarentena”, indagava. É exatamente essa sensação que de quem está seguindo rigidamente o distanciamento social. Em domingo desses, eu saí para dar uma volta de carro, daquelas rodadas apenas para ouvir uma música e olhar um pouco a paisagem, afinal, para quem já está há mais de 150 dias confinado, chega um tempo que a coisa começa a ficar estafante. E mesmo sendo descrente em relação ao comportamento do brasileiro, o que eu vi me deixou pasmo. Com o auxílio emergencial no bolso, as pessoas estão se aglomerando em bares lotados e brindando como se tivessem voltados de um longo exílio. O que me levou a fazer a uma série de questionamentos. Será que essas pessoas não têm empatia? Afinal, beber para celebrar o que? E não é só pelo coletivo que reside o meu incômodo, mas é porque o vírus maldito continua a solta na minha cidade e, pelo que eu saiba, a vacina ainda não foi produzida. E para completar, fiquei sabendo também que está rolando umas festas clandestinas em alguns sítios. Estas festas seguem todo um sistema de logística. Primeiro, o organizador te inclui em uma lista de transmissão em aplicativo de mensagem instantânea. Depois, ele te informa dia, hora e local do evento clandestino. E outra, os preços variam entre R$ 200 a R$ 400 (caso haja churrasco). Além do flerte com a morte, o sujeito que for no entretenimento paralelo, terá direito a cerveja ruim e quente, carne de qualidade duvidosa e, claro, a um paredão de som que  provoca um zumbido no ouvido no dia seguinte. Enfim, a combinação perfeita. Algumas são até batizadas de “coronafest”. Outro indício que a pandemia “passou” são os stories do povo no Instagram. Todo mundo rindo e aglomerado em seus rolês corriqueiros. E essa gente posta sem qualquer pudor. É claro que a gente tem que procurar se distrair um pouco, afinal, nem mesmo a pessoa mais equilibrada emocionalmente consegue suportar essa barra que a humanidade vem vivendo. Mas sei lá, acho que essas coisas deveriam ser deixadas offline e sem aglomerar. Porém, Gabriela Pugliesi parece ter feito escola. Mas essa situação não é exclusiva do meu âmbito de convivência, as praias em cidades como Rio de Janeiro, Santos, Florianópolis e outras localidades litorâneas estão repletas de pessoas que, ao que tudo indica, já deram uma banana para a pandemia há muito tempo. É assim mesmo, vamos viver o agora, pois o amanhã pode não chegar. É evidente que estas atitudes se justificam por conta de uma mentalidade imediatista que é típica dos nossos tempos, todavia eu nunca pensei que este expediente se estenderia quando se tratasse de vidas e dores humanas. Mas é como dizem, segue o baile. Até o momento, o coronavírus está dando um 7x1 no Brasil. São poucas as pessoas que irão extrair alguma lição dessa tragédia em que todos nós temos responsabilidade. As pessoas vazias continuarão vazias, as pessoas fúteis seguirão fúteis e assim por diante. Afinal, parafraseando o jornalista Mauro Cezar Pereira: 7 a 1 é pouco para essa gente!

    Tiago Rego é jornalista e escreve crônicas para tornar o cotidiano mais leve.

    Este texto não reflete necessariamente a opinião do Site Sudoeste Bahia.

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