A jovem pedagoga nos conta que viu a sua juventude ser podada aos 30 anos. “Há quatro anos vi minha vida se transformar por completo. Vi meu corpo se transformar. Eu era coordenadora pedagógica e tive que parar tudo o que eu fazia. Sei que é muito cedo para eu estar assim. Talvez com meus 80, 90 anos eu até pudesse entender. Na verdade eu acho que pernas foram feitas para caminhar e não para ficarem dobrada. Mas nunca me vitimizei ou me senti coitadinha”. Clara usa a cadeira de rodas por conta de sua paraplegia. E continua: “Já sofri preconceito por ser mulher e por ser cadeirante. E, por ser mulher passo por dificuldades no atendimento. Essa doença te agride. A mulher é vaidosa por si só. Tive grandes dificuldades de aceitar a cadeira de rodas por que eu não queria ficar preso a ela”. Sair de casa, segundo Klara envolve certo tipo de “logística”, pois Caetité não oferece acessibilidade para quem se locomove com cadeira de rodas. “Gosto de sair, mas sempre preciso da ajuda do meu esposo e do meu filho, pois em alguns pontos da cidade a acessibilidade é ruim e teria dificuldades na rua em me locomover”. Mas, com tudo isso Klara não se deixa abater. Durante o nosso papo, eu a ouvia sempre falando de fé. Não questionei qual era a sua religião, apesar de ter visto em sua casa itens que lembram a religião católica. “Eu não vivo sem a minha fé. Para mim, fé é crer no impossível e alcançar o incrível. Também nunca questionei Deus, por que, se eu questionasse eu passaria a questionar minha fé.” Por causa da doença, hoje a visão de Klara está parcialmente comprometida. Um antigo compositor dizia que mulher é sexo frágil. Clara me mostrou exatamente o contrário. Durante toda a nossa conversa, além da fé ela sempre demonstrou estar de bem com a vida, com positividade, alegria, superação de limites e, sobretudo muita vontade de viver. Nem aparenta ter um monte de problemas. Pergunto se ela se considera, diante de tudo, uma resiliente. “Eu não me considero resiliente. Para mim, resiliência é o ponto final. E eu não cheguei ao final. Tenho muita esperança de que um dia minha situação melhore. Já tive mais de 10 paradas cardiorrespiratórias. E, mesmo apagada durante essas paradas eu sempre firmei meu pensamento em Deus e eu dizia ‘vou voltar’. Eu agradeço a Deus todos os dias por estar simplesmente viva. Eu sempre tento superar meus limites, por que existem pessoas com mais problemas do que eu. Tenho plena consciência de que eu tenho uma missão. Ninguém está aqui por acaso. Se eu morrer não significa que eu perdi a batalha, significa que eu pude ir muito além dos meus limites”. Conversei com Klara por quase duas horas. Foi difícil para eu colocar nestas linhas, toda a história de Klara que, mesmo rodeada de muitas lutas, é uma mulher sensível e esperançosa além de ser uma guerreira incansável, apesar dela não se considerar uma. Em momentos da entrevista choramos, não pelos problemas que temos, mas por conseguimos vencer os nossos limites. No Brasil e no mundo existem muitas Klaras. Com histórias de vida semelhantes. E essas mesmas Klaras lutam todos os dias para cuidar da família, viver e sobreviver. Para todas as mulheres a nossa personagem lutadora cheia de vida e de alegria, deixa uma mensagem de esperança: “Creio que ter fé ainda é a melhor saída, acreditar que estou acima do que me feriu lutar incansavelmente pela vida apesar de todas as pancadas, pois, ser imune a dor e ao sofrimento não fazem de mim uma forte, mas sim seguir em frente, porque senti-la, me torna mais confiante para acreditar no invisível, viver o impossível e alcançar incrível.”
20/01
carlos henrique