• Caetité, pequenina mas ilustre – Por Luzmar Oliveira

    01/08/2014 - 15:41


    CAETITÉ

    O Mestre Anísio Teixeira: O Educador Assassinado Pela Ditadura

     

    A 12 de julho de 1900, nasce em Caetité, Bahia, aquele que iria revolucionar a educação no Brasil, com reflexos no mundo ocidental. É Anísio Spínola Teixeira, intelectual, advogado, professor e escritor.

     

    Filho de Deocleciano Teixeira, médico e político, tendo em sua árvore genealógica nomes como Aristides Spínola e o jurista Joaquim Spínola, Anísio é um dos criadores da Escola Nova que, em seus pressupostos, veio em defesa de um ensino público gratuito, obrigatório e laico.

     

    Dentre tantas escolas que fundou, destacamos sua influencia na reabertura da Escola Normal de Caetité enquanto Secretário da Educação no governo Goes Calmon em 1945 (cargo à época chamado Inspetor Geral de Ensino), e, mais tarde, na sua transformação e mudança para o novo prédio que hoje recebe o seu nome – Instituto de Educação Anísio Teixeira – IEAT.  Também sua participação na criação da Universidade do Distrito Federal.

    Foi influenciado pelo educador norte americano John Dewey, o qual conheceu durante sua permanência a estudos nos Estados Unidos, onde se formou e se doutorou, e de quem traduziu, para o português, algumas obras. Entre 1935 e 1945, refugia-se em Caetité, vítima de perseguição do governo Vargas.

     

    Em 1946 assume o cargo de Conselheiro da UNESCO e, no ano seguinte, volta a ser Secretário de Educação da Bahia, cargo que também exerceu no Rio de Janeiro.

     

    Defendeu sempre a educação pública gratuita, participando dos debates da implantação da Lei Nacional de Diretrizes e Bases e, em 1963, ao lado de Darcy Ribeiro, participa também da fundação da Universidade Federal de Brasília, de onde foi Reitor, cargo do qual foi afastado no ano seguinte pela ditadura militar. Parte então em exílio e torna-se professor das Universidades de Colúmbia e Califórnia, voltando ao Brasil tres anos depois como consultor da Fundação Getúlio Vargas.

     

    Morre aos 70 anos no Rio de Janeiro, a 11 de março de 1971, em condições suspeitas.  Na verdade, morre assassinado pela maldita ditadura militar. Aquela que ceifou milhares de vidas e que fabricou órfãos sem fim.

     

    CASA DE ANÍSIO TEIXEIRA

     

    Em 1998 é criada em Caetité, agregada e administrada pela Fundação Anísio Teixeira (RJ), uma entidade cultural. A mesma está sediada na casa onde nasceu o educador, que hoje é tombada e patrimônio da referida Fundação.

     

    Foi devidamente restaurada pelo IPAC, órgão do Governo da Bahia. Preserva e divulga o pensamento e a obra de Anísio Teixeira e promove a educação e seu desenvolvimento sob o ponto de vista do mesmo, suas idéias e princípios.

     

    Ali existe um Centro de Memória preservando sua arquitetura e mobiliário nos conformes dos séculos dezenove e vinte. Abriga também biblioteca pública, um Cine-Teatro/Auditório, oficina de arte e educação, CDC, um pátio para eventos e ainda uma biblioteca digital móvel.

     

    O ASSASSINATO DE ANÍSIO TEIXEIRA:

     

    O rastro de sangue deixado pelos militares, que maltrataram e sufocaram a população brasileira por algumas décadas do século XX, hoje é apurado pela Comissão Nacional da Verdade. Criada pela Lei 12528/2011 e instituída em 16 de maio de 2012, a CNV tem o objetivo de apurar as graves violações dos Direitos Humanos ocorridas entre 18.09.1946 e 05.10.1988.

     

    Dentre esses milhares de crimes, há a morte de Anísio Teixeira. Rio de Janeiro: No dia 11 de março de 1971 o educador desaparece misteriosamente. Trabalha pela manhã na FGV, na Praia do Botafogo. Sai dali às 11h, a pé, em direção ao apartamento de Aurélio Buarque de Holanda, Praia de Botafogo, 48. Foi andando. Queria seu voto para ser membro da ABL. Almoçariam juntos e dali seguiria para a Editora Civilização brasileira localizada na Glória, de onde era consultor.

     

    Anísio Teixeira era britânico em seus horários e rotinas. Como naquela noite não chegou à sua casa no horário, Emilia Ferreira Teixeira, sua esposa, ficou preocupada e começou a contatar filhos e parentes. Várias conjecturas foram acenadas, mas o tempo passava e nada de notícias.  No dia seguinte, o jornalista e genro de Anísio descobre que o mesmo não esteve com Aurélio, e recebe a notícia do acadêmico Abgar Renault que seu sogro foi detido pela Aeronáutica para “averiguações”. E dois dias depois os jornais já noticiavam seu desaparecimento quando, pelo telefone, a polícia avisa sua filha Anna Christina que seu corpo foi encontrado no fosso do elevador do prédio onde morava Aurélio Buarque de Holanda, de onde foi tirado sem perícia técnica e levado ao IML. Feita a necropsia na frente de amigos do educador, inclusive três médicos, foram constatadas duas grandes lesões traumáticas no crânio e na região supra-cavilar, impossíveis de existir em decorrência da suposta queda. Havia também uma espécie de cassetete de madeira junto ao corpo, presumivelmente causador das tais lesões. E, de repente, apareceram dois funcionários do IML afirmando que a morte foi em decorrência da queda.

     

    Observações e inspeções feitas no dito fosso, mostraram abertamente que o corpo do Caetiteense não poderia ter caído do alto e chegado onde foi supostamente encontrado, pois não teria como ter passado pelas vigas logo acima que distavam uma da outra apenas cerca de 20 centímetros. Também todas as portas do elevador, em cada andar, foram testadas e não se abriram. Os óculos do educador estavam intactos, sem rachaduras ou arranhões (Note-se que naquela época ainda não existiam as lentes inquebráveis).

     

    O professor da UFRJ, Francisco Duarte Guimarães que assistiu a autópsia, afirma categoricamente que Anísio Teixeira foi assassinado. E essa foi também a opinião de todos que ali estiveram presentes, inclusive do seu sobrinho Francisco Duarte Guimarães.

     

    A polícia tratou o fato como acidente, embora houvesse muitas evidências de ter sido assassinado e tentou culpar os serventes do prédio onde o corpo foi encontrado, versão não aceita pela família do morto que, assim, resolveu suspender as investigações.

     

    O crime está sendo investigado pela Comissão Nacional da Verdade e pela Comissão da Memória e Verdade Anísio Teixeira, da Universidade de Brasília, tendo sido autorizado mediante assinaturas do seu filho Carlos Antonio Ferreira Teixeira, por Haroldo Lima, ex-deputado federal e seu sobrinho neto e por João Augusto de Lima Rocha, Professor da Escola Politécnica da UFBA e autor do livro “Anísio em Movimento”, de onde estas informações foram retiradas.

     

    Ao processo ainda estão anexados matéria do Jornal Última Hora de 15 de março de 1971, onde foi levantada a hipótese de ter sido o crime premeditado e jamais acidental.

     

    Espera-se assim que, embora tardiamente, seja esclarecido esse assassinato, um dos milhares cometidos por uma ditadura desalmada, cruel, sangrenta, desrespeitosa que por tantos anos assolou nosso país, deixando um sem número de órfãos, viúvas, mães sem filhos e um milhão de problemas e traumas. Deixou mulheres e homens açoitados, cegos, aleijados, feridos no mais íntimo do seu ser. Estupros e lesões. Loucuras. Marcas que só o tempo e a misericórdia Divina apagarão. A mancha mais cruel e triste da nossa pátria amada Brasil! “Ditadura nunca mais!”

    Luzmar Oliveira - [email protected] – WhatsApp: 71 9950-3115

     

     

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