• Há 25 anos a Aids interrompia a poesia de Renato Russo, mas versos do artista parecem que foram feitos para estes tempos

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    Por Tiago Rego | Sudoeste Bahia

    11/10/2021 - 12:30


    CULTURA

    - Ao ser colocado em contato com uma música de Renato Russo, um adolescente da chamada geração Tik Tok, que ainda não tem familiaridade com a obra do vocalista do Legião Urbana, não terá nenhuma estranheza cronológica com os versos de “Que País é Este?”, “Geração Coca-Cola”, “Química” ou a icônica “Pais e Filhos”, que é um verdadeiro hino de uma geração, dentre tantas outras. Isso porque, mesmo depois de um quarto de século de sua morte, as letras de Renato Russo continuam sendo uma verdadeira radiografia do Brasil, dada a atemporalidade lírica e temática pela qual o roqueiro de voz grave e marcante compunha.  Renato Manfredini Júnior nasceu no dia 27 de março de 1960, na cidade do Rio de Janeiro, mas boa parte de sua vida foi vivida na recém inaugurada cidade de Brasília, onde começou a se interessar por música, em especial o punk, cinema e literatura. No fim da década de 70, mais precisamente em 1978, Renato Russo ajuda a fundar a banda Punk “Aborto Elétrico”, que tempos mais tarde originaria o Capital Inicial e a Legião Urbana. À frente da Legião, Russo pode explanar toda a angústia de sua geração. Ao contrário de bandas como Kid Abelha, Blitz, Magazine, dentre outras, que falavam essencialmente de amores agridoces,  o líder da Legião escrevia sobre adolescência conturbada, sobre política e questionava o status quo, como na emblemática Geração Coca-Cola: “Quando nascemos fomos programados a receber o que vocês nos empurraram com os enlatados dos U.S.A., de nove às seis. Desde pequenos nós comemos lixo comercial e industrial, mas agora chegou nossa vez vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês. Somos os filhos da revolução, somos burgueses sem religião, somos o futuro da nação; Geração Coca-Cola.”  Com tanto talento e originalidade, não demorou muito tempo para que Renato Russo fosse alçado a líder de uma geração, o que de acordo com amigos próximos, chegou a incomodar o cantor, pois o legionário alegava ser uma grande responsabilidade e que não estava à altura de tal posto. À medida que a Legião Urbana se tornava a banda de rock mais importante do país, Renato Russo mergulhava em um inferno astral, momento em que passa a ter problemas com drogas, principalmente o álcool, o que teria gerado uma tentativa de suicídio, quando cortou os próprios pulsos, passagem que é retratada na letra de “Índios” — Eu quis o perigo e até sangrei sozinho, entenda. — No entanto, o capítulo mais triste da vida de Renato foi o vírus HIV, que vitimou fatalmente o poeta no dia 11 de outubro de 1996. Apesar da Aids ter silenciado a voz do cantor nos palcos, a obra de Renato Russo nunca esteve tão viva. Ao passar os olhos na letra da canção “Imperfeição” [Vamos celebrar a fome, não ter a quem ouvir, não se ter a quem amar, vamos alimentar o que é maldade, vamos machucar um coração, vamos celebrar nossa bandeira, nosso passado de absurdos gloriosos tudo o que é gratuito e feio tudo que é normal vamos cantar juntos o Hino Nacional, a lágrima é verdadeira] tem-se a impressão que ela foi escrita o mês passado. Por isso, enquanto houver senso crítico e indignação, apelo poético, Renato Russo será lembrado e rememorado. 

  • Renato Russo
    Legião Urbana
    Morte
    25 anos

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