• 'Nova política não tem nada de novo', avalia filósofo Newton Bignotto

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    Por Matheus Simoni

    01/09/2020 - 14:00


    Autor do livro 'O Brasil à procura da democracia', professor detalha riscos do desinteresse da população pelas instituições fomentar o surgimento do autoritarismo

    POLÍTICA

    O filósofo e professor Newton Bignotto comentou as ameaças à democracia do país em meio às iniciativas do governo de Jair Bolsonaro (Sem partido). Em entrevista a Mário Kertész hoje (1ª), durante o Jornal da Metrópole no Ar da Rádio Metrópole, ele comentou o processo de escrita do livro "O Brasil à procura da democracia — Da proclamação da República ao século XX" e avaliou que experiências democráticas no país têm se “mostrado frágeis e instáveis". "Eu acho que os regimes brasileiros têm se caracterizado por essa entropia. Tendemos a buscar causas externas a nós mesmos. Claro que elas existe, estão aí e o Brasil está no mundo desde sempre, a história dos outros países afeta nossa história. Mas eu acho que é preciso também prestar atenção que essa disjunção, sobretudo das instituições que não parecem capazes de permanecer no tempo, enquanto na democracia há esse desejo de duração. Aliás, todo regime político tem esse desejo de duração", declarou o filósofo. Segundo Bignotto, o momento atual brasileiro permitiu o surgimento batizado de "nova política". No entanto, ele avalia que não há qualquer novidade nesta bandeira. "Estamos diante de uma perplexidade. Algumas coisas que nomeamos como nova política não tem nada de novo. Esse recurso que tem sido feito por certos agentes políticos atuais. Não tem novidade", afirmou. "A novidade é porque corrói a cena pública, quando a gente passa a ter um convívio excessivo de agentes públicos que mentem descaradamente, como a gente tem assistido, é um sinal grave de que algo na nossa democracia não está andando bem", acrescentou Bignotto. Ainda segundo o filósofo, este discurso é repetido há muito tempo, desde os primeiros movimentos autoritários na Europa. "Essa insistência na nova política era o discurso dos fascistas italianos em 1919, mesmo quando perderam a eleição. Eu acho que a gente deve talvez encontrar o que é a política em uma sociedade de massas. Somos uma sociedade de massa. Nesse sentido, tem muito da chamada nova política que é a velha política da sociedade de massa. Por outro lado, é verdade que nós sofremos uma corrosão recente das instituições e da crença nas instituições, o que é duplamente grave. A instituição de uma democracia depende do seu funcionamento, não existe democracia sem uma institucionalidade posta. Ela também deve ser objeto de crença da população", afirma.

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