• Presidente do Vox Populi contesta confiabilidade de pesquisa favorável a Bolsonaro

    Foto: Divulgação Foto: Divulgação
    Por Matheus Simoni

    17/08/2020 - 09:30


    Para Coimbra, método de pesquisa não aponta uma amostragem 100% fiel à realidade: 'Quando se faz pesquisa desse jeito, a margem de erro aumenta'

    POLÍTICA

    - O sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, comentou os dados divulgados pela pesquisa do Datafolha que apontou um recorde na avaliação positiva do presidente Jair Bolsonaro. Os dados apontam que o índice subiu de 32% para 37%. Rejeição cai dez pontos percentuais após a continuidade do auxílio-emergencial e recuo do presidente em conflitos com Congresso e Judiciário. A pesquisa foi realizada entre 11 e 12 de agosto e aponta que o presidente Jair Bolsonaro está com a melhor aprovação desde o início do mandato. Para Coimbra, não é possível afirmar com exatidão a informação por conta do método utilizado, já que as pesquisas são feitas somente por telefone. "Nós temos pesquisas muito ruins, não porque são malfeitas por que tem alguém dirigindo ou nada disso. São ruins porque não são capazes de fornecer um retrato do conjunto da população brasileira. Elas pegam um pedaço e esse pedaço não é exatamente igual a outro pedaço que não está abrangido pela pesquisa. Aquela ideia de que, por trás da pesquisa, tem um conceito importantíssimo de amostra representativa. Se você quer falar com qualquer público, você não tem como ir atrás de todas as pessoas porque é impraticável", disse o presidente do Vox Populi, em entrevista a Mário Kertész hoje (17), durante o Jornal da Bahia no Ar da Rádio Metrópole. "Você pega uma amostra, mas tem que ser daquele universo. Se você quer saber uma opinião de torcedor do Bahia sobre o Vitória? Não, não faz sentido. A não ser que você queira saber a opinião de quem torce por outro time. Se você quer a opinião de um conjunto da população, você não vai fazer só de um pedaço", acrescentou. Outros institutos também adotaram a ferramenta da pesquisa por telefone durante a pandemia de coronavírus. Segundo Marcos Coimbra, o método dificulta uma amostragem mais fiel à realidade. "Desde que começou a pandemia, não só no Brasil mas no mundo inteiro, só tem pesquisa por telefone ou, pior ainda, quando é feita pela internet. Não é todo mundo que fica na internet interessado em assunto político disposto a responder questionário. As pessoas têm uma vida diferente e não se interessam sobre o assunto", declarou o sociólogo. "De acara, você não consegue falar com todo mundo. Fica fora da amostra uma parte importante. Quando você leva em consideração que as pessoas de mais baixa escolaridade e renda tendem, a maior parte delas, se interessar pouco por político, você é obrigado a se perguntar que amostra é essa que as pesquisas por telefone têm", acrescentou. O Vox Populi, segundo Coimbra, utilizou a mesma ferramenta de entrevista para dados em seu instituto. No entanto, os dados não são comparados de forma igualitária com censos mais antigos. "A pesquisa que saiu do Datafolha, falo à vontade porque também fizemos por telefone, tem que ter cuidado na hora de interpretar e analisar. Uma coisa que não se pode fazer e está sendo feita e abusada dessa pesquisa é começar a comparar o resultado dela com outro tipo de pesquisa que o próprio Datafolha fez nos últimos 15 ou 18 meses de governo Bolsonaro. Dizer que é o melhor resultado que o Bolsonaro já teve, não dá para falar isso. Pode dizer que é o melhor resultado dentro das pesquisas feitas por telefone. Mas não dá para alinhar com os outros resultados. Só vamos saber isso com mais segurança quando pudermos voltar a fazer pesquisa com todo mundo", avaliou o especialista. "Quando se faz pesquisa desse jeito, a margem de erro aumenta, a confiabilidade estatística diminui e é necessário muita cautela na hora de dizer que aumentou cinco pontuais. Aumentar cinco pontos numa pesquisa feita desse jeito, não quer dizer nada. Quer dizer que tem um conjunto de fatores que sugere que há uma possibilidade que esteja crescendo. Mas começar a falar em aprovação recorde e dizer que ele dispara, dizer que o auxílio emergencial faz ele entrar nos redutos lulistas e petistas, tem que ter muita cautela, as pesquisas não permitem dizer isso. Temos que ter muito cuidado na análise", finalizou Coimbra.

MAIS NOTÍCIAS