• Caetité, pequenina e ilustre – Por Luzmar Oliveira

    01/10/2014 - 21:23


    CAETITÉ

    Eu sou do tempo do exame de admissão

     

    Eu sou do tempo em que se fazia o jardim de infância, o primário, o ginásio e o curso Normal. E o Científico também! Do tempo do exame de admissão. Do tempo em que se estudava francês, inglês e latim. E os da minha geração, que passaram pelo IEAT de Caetité, não tiveram dificuldades no vestibular e nem surpresas nas faculdades. E tirariam de letra a redação do ENEM!

     

    Instituído pelo Decreto 19.890 de 18 de abril de 1931, os Exames de Admissão ao Ginásio eram um terror. Esse avô do ENEM era uma espécie de vestibular. O curso primário durava 5 anos e, para os concluintes ingressarem no ensino secundário, deveriam se submeter aos Exames de Admissão e serem devidamente aprovados. A exemplo dos cursinhos pré-vestibular havia os preparatórios para os referidos exames. Os candidatos deveriam ter 11 anos ou mais e faziam provas escritas e orais.

     

    Vale lembrar que, no primário, havia avaliações mensais e mais dois exames: o intermediário em junho e as provas finais em dezembro. A média para aprovação era 5.  E salientamos que essas avaliações eram também escritas e orais. 

    Não havia nenhuma lei que obrigasse as escolas a aprovar o aluno sem rendimento. E isso valia também para o ginásio e o pedagógico.

     

    Aprovado na Admissão, os alunos começavam a cursar o ginásio onde tudo era novidade. Acostumados com um único professor para todas as matérias, tinham que se adaptar a aulas programadas de 50 minutos e intervalo de 10 minutos; para cada disciplina um professor e uma rotina bastante diferenciada. Quatro aulas por dia, de segunda a sábado.

     

    Ali terminava o Primário. Ali terminava o recreio único de meia hora na metade do expediente. Ali findava o corre-corre nos pátios escolares. A merenda em grupo. Os estagiários. Os passeios anuais. As aulas de recreação. O carinho e aconchego do professor infantil.  E começava o sonho/pesadelo de estudar Latim, Francês, Inglês, História Geral... E tudo com notas individuais. Ter aulas de Educação Física obrigatória duas vezes por semana, sendo que poderiam ser, inclusive, às seis horas da manhã, em pleno inverno! Ou às 15 horas, no verão escaldante. Essas eram realizadas no Campinho da Primavera (onde hoje é o Clube da Amizade) ou na quadra de esporte do IEAT.  

     

    No primeiro dia de aula no ginásio, encarávamos o professor Hélio Negreiros, com uma frase: “Non discimus scholae, sed vitae”. Com sua voz eloquente falava e repetia alto, escrevia no quadro de giz e traduzia: “Não aprendemos para a escola, mas para a vida”.

     

    Logo depois vinha o professor Celso Catuladeira nos ensinar o “Bonjour”. No Português, dona Maria Fróes. Matemática, dona Tita. História, dona Moema. Desenho, dona Dida Cerqueira. Ciências, dona Alena. Geografia, dona Colozinha. Canto Orfeônico, dona Eliane (esposa do Ministro Protestante). E Educação Física, dona Irany. Economia Doméstica (Trabalhos Manuais), Marlene Cerqueira.

     

    Em todas as matérias havia avaliação. E em todas se fazia “chamada” e as faltas podiam ocasionar reprovação. Fazíamos provas mensais e, em junho, um pré-exame, culminado com o final em dezembro.

    Quatro anos no ginásio. E a partir do terceiro, entrava História Geral, Geografia Geral, Inglês... Depois, vinha o Curso Pedagógico ou Normal. Antes, era precedido pelo Intermediário, seguido de dois anos na formação do professor. Depois, passou a ser de três anos, sendo que, no último, havia o estágio prático em sala de aula do curso primário.

     

    Mas voltemos aos Exames de Admissão.  A ansiedade de entrar para o ginásio nos fazia diferentes. Uma curiosidade, um sonho, uma vontade de crescer, de ser adolescente e, ao que parece, em nossa cabecinha, tudo isso acontecia só com a aprovação naqueles exames.  Estudávamos dia e noite para passarmos e freqüentar aquele prédio branco que se nos afigurava como o inusitado, o especial. Ingressar naquele mundo era quase tão importante como entrar em uma faculdade.

     

    Chegado o dia do sonhado concurso, vestindo roupa nova, lápis apontados, lotávamos as salas para isso reservadas, buscando responder a todas as perguntas com afinco e precisão. Dias depois os resultados eram afixados no mural do IEAT. E ao ler nosso nome... Meu Deus! Que alegria, que prazer! Que orgulho! Estava assim carimbado o nosso passaporte para o mundo dos jovens! Decididamente, nossa infancia ficava para trás. Dávamos o primeiro passo para conseguir o diploma de professor e para o primeiro emprego. E também para namorar, fumar, fofocar... pois ninguém é perfeito!

     

    Em 1971, por força de lei, o primário e o ginásio se fundiram como Ensino de 1º Grau que, mais tarde, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996, passou a se chamar Ensino Fundamental.

     

    Pois é... E contam que uma senhora de Caetité resolveu se submeter ao famoso exame de admissão, pois sonhava estudar e ser professora. E numa determinada questão de Ciências, lhe perguntaram:

     

    “Em quantos estados encontramos a água, e quais são eles?”

     

    Ao que ela respondeu:

     

    “Três: suja, limpa e barrenta.”

     

    Bem... Isso e só uma lenda!

    Luzmar Oliveira – [email protected] – WhatsApp: 71 99503115

     

     

     

     

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