• Caetité, pequenina mas ilustre – Por Luzmar Oliveira

    28/07/2014 - 17:11


    CAETITÉ

    A Festa de Santana em Caetité – Cidade Feliz

     

    Parece que esse refrão, “Caetité, Cidade Feliz”, fica gravado em nossa mente e em nosso coração. É que nos emociona ao extremo ouvir que a nossa terra é feliz. Nos faz ter taquicardia, euforia, alegria e outras “ias”. Somos caetiteenses de corpo e alma e o amor por esse pedacinho de chão nos domina de tal forma, que não mais conseguimos viver sem seu contato. Somos felizes filhos de “Caetité, Cidade Feliz”!

     

    Conheci a Festa de Santana ainda menina e, confesso, nada tinha a ver com a atual. Mas nunca deixou de ser linda e maravilhosa. Não existia a parte profana, que dá um “que” de vibração e cultura popular, pois traz a música e a diversão para as ruas, principalmente para a praça que nos faz lembrar Castro Alves quando diz “A praça é do povo como o céu é do condor”, ou, mais recentemente, Caetano Veloso que moderniza o final, “como o céu é do avião”, referindo-se à Praça Castro Alves dos “quase” velhos carnavais soteropolitanos.

     

    Naquela época, apesar do município ser muito maior, a cidade era muito menor. Extremamente católica e sede de bispado, a pequena Vila Nova do Príncipe se esmerava em suas missas, procissões e dispunha de verdadeiros oradores como o grande bispo Dom José Pedro Costa, que nos presenteavam com belíssimas pregações, encenações e maravilhosa missa festiva. 

    Mas, basicamente, se resumia às novenas, procissões e à celebração eucarística. E a população aproveitava para fazer uma roupa nova para a missa solene do dia 26 de julho.

     

    No dia anterior já acontecia a carreata de São Cristóvão, aquele que atravessou o rio com o menino Jesus e o batizou e, por conduzi-lo, recebeu o título de “Padroeiro dos motoristas”.

     

    Com o passar dos anos e o crescimento da população e dos visitantes, a festa foi mudando. Hoje há a missa na igreja, mas há também a campal em ocasiões especiais, mesmo porque a nossa Catedral já não comporta tantos fiéis.

     

    Para completar, criou-se a “festa de largo”, onde barracas padronizadas ocupam parte da praça e inúmeros vendedores informais esparramam suas mercadorias em carrinhos, tabuleiros e displays. E ali se bebe e come do bom e do melhor. Desde churrasquinho de gato a espetos de picanha e maminha. Pipocas e churros. Sanduíches e pizzas. E no meio da praça, próximo à 2 de Julho, um enorme palco abriga as atrações musicais daquelas noites frias do inverno serrano da cidade. Três apresentações por noite. Cantores e cantoras que encantam multidões. E o povo canta e dança transformando aquele espaço em um mundo de alegrias, acompanhando os shows ao vivo ou pelos telões laterais.

     

    Mas ainda tem mais. Há os “exilados” que voltam às suas origens para matar a saudade e se ajoelhar aos pés da padroeira, a avó de Jesus, a “Mãe da mãe de Jesus”, a nossa “Santana”, aquela que ensinou as primeiras letras a Maria e que também é a madrinha de todas as avós!

     

    E esses “exilados”, como eu, se sentem acolhidos pelos familiares e amigos e se espalham por todos os espaços buscando preencher em si e nas ruas, as velhas lacunas deixadas e criadas pelo tempo. Ali revivem momentos, embora com coloração diferente, das suas adolescências e juventude e buscam nos abraços o perfume dos tempos dourados. Contam “causos” recheados de lembranças. Comem chimangos, chiringas, bolo frito, queijo branco, roem pequis temporões ou guardados nos congeladores... E se empanturram com as delícias que marcaram para sempre suas vidas.

     

    Exilados que buscam sentir aquele frio que gela a espinha, que fixa um pingente de gelo na ponta do nariz, que nos faz tiritar nas madrugadas nos enrolando mais e mais nos cobertores de lã. E como sentem saudade desse frio tão caetiteense como nós!

     

    E é esse reencontro de tantas pessoas e coisas que faz dessa festa um marco maravilhoso e uma peregrinação anual obrigatória em nossas vidas.

     

    Festa de Santana, padroeira de Caetité! Tradição e cultura de um povo agraciado pela beleza de uma cidade e região. Um povo eminentemente católico e temente a Deus. Sede centenária de um bispado. Cidade dona da mais bela catedral dos arredores. Gente educada e de bom coração. Onde a mais bonita de todas as praças é palco da maior festa religiosa de todo o sudoeste da Bahia. A festa da Santa Ana da igreja romana.

     

    E no Candomblé vamos encontrar Nanã, a senhora da vida e da morte. Da saúde e da maternidade. É de origem Jejê, no Daomé (República de Benin). Ela rege a passagem entre a vida e a morte. Seu dia da semana é terça feira e suas cores são roxo, branco e anil. Segura um bastão de Ibiri (haste de palmeira) e um colar de contas e búzios cruzado no peito (Bradjas). Sua comida é o Aberem e o Mugunzá.

     

    É a deusa dos mistérios e sua origem remota à criação do mundo. É a Iabá mais antiga, ocupando lugar de destaque entre os Orixás. É a mãe de todos, é bondosa, compreensiva, amiga, carinhosa, sensível. Mas quando dominada pela ira, é terrível!

     

    É a mais antiga das divindades das águas, sendo considerada a memória ancestral do povo de Benin. É Iyá Agbá – mãe antiga. Mãe dos orixás Iroko, Obaluaiê e Oxumaré. Mas é respeitada como a mãe de todos os orixás.

     

    Dizem que quem é filho de Nanã, tem o corpo fechado e não há maldade capaz de derrubar. Talvez isso explique a força e a fé do povo caetiteense, seus filhos por natureza. E dessa cidade que cresce desafiando o sertão, a política, a seca, a distância e as variações climáticas.

     

    Caetité! Terra de Senhora Santana, a mãe da mãe de Jesus! A esposa de Joaquim e aquela que deu a luz a Maria, a Mãe da Humanidade! A que derrama “sobre nós, soberana, vossas bênçãos de amor maternais”. Salve Santana! Abençoe a todos nós!

     

    Caetité! Terra de Nanã, senhora da vida e da morte, do princípio e do fim. Aquela que abre nossos caminhos e nos guarda de todo o mal. “Salubá, Nanã!” - Luzmar Oliveira - [email protected] – WhatsApp – 71-99503115

     

     

    CONTINUE LENDO

MAIS NOTÍCIAS