• 'Se eu fosse alguém que me vendesse, estava lá até hoje', diz Moro sobre governo Bolsonaro

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    Por Matheus Simoni

    13/07/2020 - 08:30


    Sem apoio do presidente, ex-ministro da Justiça disse que não poderia ter ficado "quieto" diante da interferência do Planalto na PF

    POLÍTICA

    - Ex-ministro da Justiça e Segurança Pública no governo de Jair Bolsonaro, Sérgio Moro reclamou da falta de apoio do presidente da República em questões ligadas ao combate à corrupção, motivo que o levou a pedir demissão em abril deste ano. Segundo o ex-magistrado, não havia mais condições de se manter em Brasília diante de episódios de confrontos diretos entre ele e o chefe do Poder Executivo. "Vi a oportunidade de ir Brasília, pessoas podem criticar, mas sempre falei a verdade. Fui fazer esse trabalho, quando vi que nao tinha mais condições de fazê-lo, eu saí. Se eu fosse alguém que me vendia ao poder, estava lá até hoje tentando cavar uma vaga ao Supremo Tribunal Federal, agradando o presidente e concordando com tudo o que ele fala. Não tem nenhuma relação com isso. Tenho relação com as coisas que estão certas. E fui bem-intencionado e saí bem-intencionado. Não quero ter nada a ver com esse governo. Consegui avançar coisas avançar coisas no âmbito da Segurança Pública. No combate à corrupção, faltou apoio do Palácio do Planalto", disse o jurista, em entrevista a Mário Kertész hoje (13), durante o Jornal da Bahia no Ar da Rádio Metrópole. Questionado sobre algum arrependimento de ter integrado o governo, Moro diz que aceitou o convite por conta da construção de uma agenda anticorrupção. Porém, diante dos atos de Bolsonaro, houve um esvaziamento desse programa. A gota d'água, segundo Moro, foi a tentativa de Bolsonaro de tentar interferir no comando da Polícia Federal. "Eu não posso concordar. Sempre defendi que para ter combate à corrupção, é importante ter autonomia nos órgãos de controle. Não posso concordar que haja uma mudança na PF por motivos que não sejam republicanos. Se não pode dizer em voz alta porque que está trocando o diretor da PF ou superintendente da PF do Rio, então você não deve fazer essa troca. Eu saí por essa falta de apoio, mas teve conquistas importantes. É um peso para mim, a gente acaba ficando sujeito a ataques das mais variadas ordens. É um peso para minha família, mas eu entendi também que eu devia isso ao país. Não posso ficar nessas circunstâncias. Não quis prejudicar o governo, mas não poderia ficar quieto naquelas circunstâncias", afirmou. "Se eu fico, eu jogo tudo fora do que eu fiz em minha carreira e jogo fora minha consciência", acrescentou Moro.

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