• Setembro Amarelo: psicóloga fala sobre a prevenção ao suicídio

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    Por Willian Silva

    25/09/2018 - 16:30


    SAÚDE

    A cor amarela é em homenagem a um jovem de 17 anos que tirou a vida enquanto guiava um carro amarelo, nos Estados Unidos, em 1994

    Setembro é o mês dedicado a um tema de extrema relevância e que tem deixado muita gente preocupada. É a questão do suicídio, assunto que, volta e meia, é mostrado em notícias quando alguém resolve dar fim em sua própria vida. O Sudoeste Bahia entrevistou a psicóloga caetiteense Elizama Oliveira, que trouxe à luz algumas dúvidas levantadas e que poderão ajudar a quem precise, já que todos podem ajudar a salvar uma vida. Muita gente procura uma definição para o suicídio e o porquê dela acontecer. Questionada sobre isso, a psicóloga diz que “não há definição mais clara do que o ato da pessoa produzir a sua própria morte, como uma forma de lidar com o sofrimento e revelar desesperança diante da vida. E, como podemos imaginar, sim, o desejo não é genuíno, a morte se torna opção por não saber lidar com a vida, por a vida perder o sentido, por a vida se tornar tão dolorosa ao ponto de perder a razão da existência, por perder a esperança do 'sol nascer apesar da escuridão da noite'. É aí que surge, a necessidade de um acompanhamento profissional, pois geralmente, a pessoa com pensamentos ou ideações suicidas se perde em suas próprias crenças e concepções distorcidas da realidade, e especialmente sobre sua própria vida.” A Igreja, seja ela Católica ou Evangélica, ainda se abstém de falar em suicídio. Talvez o fato se dê mais por se manter concepções sem fundamento científico algum ou por ainda não saberem lidar com situações extremas, como a depressão que de alguma forma ainda leva ao suicídio.

    Não raros os casos de líderes cristãos que tiram a sua vida, em razão de pressões. Sobre o fato, Oliveira cita que é um tabu se tratar da morte por diversos fatos, entre eles, pelo fato de a morte ser algo irreversível. “O tabu nas instituições religiosas talvez seja: a) em decorrência de manterem essa ideia (concepção já invalidada pela ciência) de só de falar sobre suicídio pode estar incentivando a prática; b) talvez por não saberem lidar com uma temática tão desafiadora; c) ou por ser um tema que gera estigma, rejeição nos contextos religiosos por considerarem “pecado”. O mais importante é desmistificarmos o suicídio, no sentido, de promovermos acolhimento à pessoa em sofrimento, direcionando-a para um tratamento adequado com profissionais específicos, mas também ampliarmos os nossos horizontes, ao refletirmos que não estamos isentos de sofrimento enquanto ser humano e talvez até seria contraditório as religiões - instituições essas que de forma geral, promove aprimoramento espiritual e moral nos indivíduos - não abrirem os “braços” para defender a bandeira contra o suicídio. "Muita gente acusa as tecnologias de serem os causadores de tantos suicídios. Segundo Elizama, sempre existiu o problema, mesmo em cidades pequenas em que não haviam sequer telefonia o TV. Mas, é fato, que estas ditas tecnologias também influenciam para que haja casos de suicídio. “Por outro lado, não podemos negligenciar os impactos midiáticos nos nossos comportamentos, principalmente considerando o ser humano como um ser social e que modela seu comportamento a partir do ambiente em que está inserido. Hoje em dia, temos o youtube, que tem sido um local de influências inúmeras - especialmente para crianças e jovens – e onde pessoas aprendem a como se vestir, o que ler, como fazer um trabalho, sobre os “5 passos para a felicidade”, mas também sobre aqueles comportamentos inadequados ou prejudiciais a sua saúde e vida. Por isso, acredito que precisamos nos atentar as redes sociais e canais midiáticos pois podem influenciar pensamentos, visões de mundo e comportamentos da pessoa, todavia não podemos partir do pressuposto que “uma coisa causa a outra”. Outro ponto abordado foi como identificar os “sintomas” – também conhecido como gatilhos – de quem está planejando o suicídio. “Sobre os sinais de alerta, podemos destacar a) isolamento; b) abuso de álcool e drogas; c) mudanças abruptas de comportamento; d) declarações de amor inesperadas; e) uso de expressões como “pode ser tarde”, “não vou dar mais trabalho”, “eu preferia estar morto”, “eu não posso fazer nada”, “eu não aguento mais”, “eu sou um perdedor e um peso pros outros”, “os outros vão ser mais felizes sem mim”; f) “falsa calmaria”, quando a pessoa que sempre falou que ia se matar, parou de comunicar de uma hora para outra, etc; g) e de forma geral, o regra das 4d ”: depressão, desesperança, desamparo e desespero.” Um dado alarmante trazida pela profissional da Psicologia é a quantidade de casos de suicídios registrados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo Elizama, a OMS informou que, aproximadamente, 1 milhão de pessoas morrem por suicídio a cada ano. É a terceira causa de morte entre jovens e o Brasil ocupa o oitavo lugar no ranking mundial. As taxas do suicídio têm aumentado gradativamente no Brasil (73 %) entre 2000 e 2016, sendo as maiores taxas de crescimento entre jovens e idosos, do acordo com o ministério da saúde. No mundo, o suicídio acomete mais de 800 mil pessoas, segundo a organização mundial da saúde (OMS) e é a segunda causa de morte no planeta entre jovens de 15 a 29 anos. Outra preocupação é o pouco suporte que o Governo Federal oferece para que os casos de suicídio diminuam. “O suicídio é uma questão de saúde pública, apesar de talvez não ter recebido todo o suporte que merece. Todavia, temos hoje grupos de ajuda e assistência como o centro de valorização da vida-CVV (https://www.cvv.org.br/), que atende pessoas com depressão e tendência suicida, através de serviço de apoio por telefone (188) para todas as pessoas que queiram ou precisem conversar sobre suicídio, mediante atendimento gratuito, para todo o Brasil - termo de cooperação entre o CVV e o Ministério da Saúde.  Entretanto, devemos promover medidas preventivas no combate ao suicídio, através de programas de saúde mental (promoção, prevenção, intervenção). Para enfatizarmos a importância de qualquer pessoa, em qualquer idade, cuidar da sua saúde mental e procurar assistência profissional (psicólogo, psiquiatra), no decorrer da vida, não só quando o suicídio é uma opção iminente, mas desde antes quando sintomas disfuncionais e destrutivos para a saúde mental venham fazer parte da vida da pessoa. E finalizando, Elizama deixa algo importante para quem se depara com alguém que planeja terminar o seu viver. “1) ouça a pessoa, mostre respeito e que entende seus sentimentos.; 2) converse sobre o sofrimento, escolha um lugar adequado, reserve um tempo e estabeleça um diálogo de confiança; 3) converse sobre suicídio, havendo abertura, questione sobre intenções suicidas, gradativamente e com calma, pois perguntar sobre suicídio previne suicídio; 4) converse sobre as razões para viver, algo que possa alimentar a esperança e renovar as forças.; 5) proteja a pessoa - nunca deixe a pessoa sozinha, afaste armas, veneno, facas ou cordas. 6) estimule a pessoa a buscar ajuda profissional, pois há intervenções que farão com que a pessoa veja que viver é a melhor opção. Enfim, falar sobre suicídio é um passo muito importante para salvarmos vidas. Viver é a melhor opção. Vamos fazer parte dessa equipe na luta pela vida.”

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