Depois, com os olhos bem abertos, saíamos a procurar pelo chão os fogos perdidos na hora da folia. E encontrávamos traque, bombinhas e cobrinhas que alguém deixou cair. Era só alegria e muita farra. E juntando-os aos que sobraram, continuávamos a brincar e fazer barulho com nossos amigos. Era assim que não deixávamos a noite acabar, mesmo com o sol clareando o dia, mesmo com a fogueira apenas no borralho.
E por falar em fogueira, também fazia parte da tradição reacende-la todas as noites seguintes, até que o último tição ou a última brasa virasse cinza. E assim o São João se misturava com São Pedro e quase também com o Dois de Julho. Só não com esse último porque era dia de outra festa, e a prefeitura preparava a cidade para as suas alegorias.
Lá dentro de casa também havia a sobra das comidas. O frango e a leitoa estavam ainda mais gostosos, pois, em dia de pós-festa, nada é mais delicioso que comer o que restou no dia seguinte. E por mais tarde que tenhamos dormido, logo cedo despertávamos com uma sobrecarga imensa de energia. Não havia cama que nos segurasse. A vontade de continuar curtindo a melhor festa da nossa vida era a tônica de todos nós!
Mesmo adolescentes éramos assim. A alegria das festas juninas sempre gritou alto em todos nós, sertanejos do meu nordeste. O zabumba, a sanfona, o triângulo... eles tem o dom de despertar uma coisa boa demais. E o forró é mais forte que o carnaval. É nosso! É como o baião. É invenção desse povo que, por mais sofrido que seja, tem a bondade e a alegria como refrãos da canção da vida. Tem no peito a vontade de sorrir, de dançar, de mostrar ao mundo inteiro que nasceu para ser feliz! Somos um povo que tem o xaxado no pé, o molejo na cintura, o ritmo da sanfona no coração. Êta gente diferente e colorida! Hospitaleira, recebe com um sorriso quem quer que seja, de onde venha e pede que fique à vontade. Que dance e coma sem cerimônia. Gente alegre e amiga como pouca ou quase nenhuma mais no mundo inteiro. Talvez o último povo feliz da Terra...
Êta terrinha boa esse nordeste do meu Brasil. Êta cidade encantada aquela em que nasci e me criei. Na velha rua onde passei os vinte primeiros anos da minha atual existência, o São João era tradição e cor. Cada vizinho fazia a sua fogueira, mas sempre encontrava tempo para visitar a dos outros. E o bate-papo rolava solto, pois a convivência naquela pequena Caetité nos tornava uma grande família. E essa lei era para todas as ruas, todos os moradores. Não havia distinção entre pobre e rico, empregado e patrão, preto e branco, doutor ou analfabeto. Todo mundo era gente e era amigo. E todos festejavam juntos.
E como esquecer tudo isso? E como não contar para os jovens de hoje que São João é tradição de alegria, boa hospitalidade e muito amor? É quando o nordeste mostra a que veio! Mostra que é a terra melhor do mundo e que seu povo é uma mistura de alegria e paz. Que temos o carnaval, o axé, o frevo... mas que mais que isso, temos na sanfona, na viola e no zabumba a nossa verdadeira história! Que o digam o velho Gonzagão, Dominguinhos e Sivuca, os eternos reis do baião!
Luzmar Oliveira – [email protected] – WhatsApp: 71 – 99503115 e 87247161. http:// facebook.com/luzmar.oliveira1
20/01
carlos henrique