• Caetité, pequenina e ilustre – Por Luzmar Oliveira

    Foto: Arquivo Luzmar Oliveira Foto: Arquivo Luzmar Oliveira
    25/01/2015 - 09:43


    CAETITÉ

    Estreando na Lavagem da Esquina do Padre e Carnaval da Diversidade

     

    Após tanto resistir, arrumei as malas e marquei passagem no ônibus de Roberto. Fui para Caetité assistir à 28ª Lavagem da Esquina do Padre e 3º Carnaval da Diversidade. Assistir só não! Participar!

     

    É a maior festa popular daquela cidade, quiçá da região. Meu amigo Nelsinho e mais 2 ou três companheiros “inventaram” esse evento lá pela década de oitenta. Era, a princípio, uma folia sem compromisso, competindo, em data, com a Lavagem do Bonfim, a da Barra e todas as outras em Salvador. Uma espécie de eco. Começou sem grandes compromissos, apenas para combater o marasmo das férias de janeiro em uma diminuta cidade do sudoeste baiano. Coisa de adolescentes entediados e criativos. Escolheram então a esquina da Avenida Santana com a Praça da Catedral, onde fica a casa do Monsenhor Osvaldo, nosso pároco maior, a referencia de muitas gerações, símbolo do Clero da nossa Vila Nova do Príncipe. 

     

    No princípio foi vista com má vontade pela sociedade. Mas, aos poucos foi crescendo ao ponto de hoje ser essa festa que empolga e se aloja no calendário da cidade, dos arredores e dos filhos desterrados. De uma simples batucada, tornou-se carnaval e festa de largo respeitada e concorrida. Tanto que o nosso prefeito Zé Barreira não titubeou em juntar o carnaval/micareta da cidade à tão gostosa Lavagem da Esquina, criando assim junção da mesma com o Carnaval da Diversidade, que já está em sua 3ª edição.

     

    Nos velhos tempos da minha infancia e adolescência, o carnaval de Caetité era no carnaval mesmo, com três dias de folia e diversão. Um pouquinho na rua e o resto no Clube Social da praça e no Círculo Operário e, mais tarde, no Baraúna Tênis Clube. Com mais um tempinho, surgiram os primeiros Trios Elétricos, como o Carcará e o Giripoca, formados por jovens da cidade mesmo, amigos nossos. Era um tal de passar e repassar o “Livro de Ouro”, pois só assim conseguiam a grana para arrumar o carro, os instrumentos e o que mais era preciso. E, de colaboração em colaboração, nossos jovens heróis espalhavam alegria e muita musica para os foliões que éramos nós.

     

    À noite ninguém dispensava o baile no clube. E a noite era pequena para tanta energia e vontade de render homenagem ao efêmero rei Momo. Princesas e rainha também faziam parte daquela corte e, diga-se de passagem, brilhavam e pipocavam no salão com garra e muito suor e cerveja. Hoje tudo mudou e eu vou contar tudo que vi, vivi e senti nessa minha estréia na festa comandada pelo meu amigo Nelsinho e equipe, mais a participação da Prefeitura Municipal.

     

    No primeiro dia vi muita alegria, palco e som na praça e desfile de blocos, inclusive o infantil, sob o comando do meu amigo Magal, esse radialista que costuma me arrancar emoções. Tudo balançando o chão da praça, da Avenida Santana e da Rua Barão de Caetité. E a festa correu bem noite afora. Não aguentei ficar muito tempo, pois, cansada da viagem, me recolhi no meu cantinho em casa do meu irmão Dácio Oliveira, ali mesmo no centro da muvuca. E demorei a me encontrar com Morfeu, mas estava feliz demais para me incomodar com isso. Estava em minha terra, roendo pequi, comento bolinho frito, ao lado de pessoas queridas, amigos de vida inteira e minha família.

     

    Embora as pedras do chão das ruas não mais estejam ali, embora a cidade tenha crescido muito e seus moradores sejam outros, é ainda a minha Caetité Pequenina e Ilustre! O amor da minha vida.

     

    No dia seguinte Nelsinho me comunica que sou jurada e que tenho que acompanhar o cortejo para ver e fotografar fantasias, máscaras, grupos etc etc. Entrega-me uma prancheta com uma planilha e uma camiseta vermelha onde estava escrito COMISSÃO JULGADORA DE FANTASIAS. Eu, que abandonei o curso de Direito pela metade por haver desistido do meu sonho de ser Juiza, por considerar que não tenho o direito de julgar ninguém, me travestia, naquele momento, de juíza de fantasias... Vesti a camiseta e fui, porque aquilo não era um convite, era uma convocação, uma intimação, sem direito a negativa. Era coisa que ele insistia há anos e eu saltava fora. Agora não tinha mais jeito.

     

    Cheguei ainda cedo na concentração, lá na Feira Velha, em frente à sede do “Boi de Idalino”. Mais emoção. Retrato da minha infância e juventude. Temos quase a mesma idade (o Boi e eu). “Meu Boi Bumbá”. Coisa linda! Criança seguia aquele desfile, fascinada. É a cultura do meu Nordeste que me encanta e emociona às lágrimas. É o início da história da minha vida nos carnavais! E, pela primeira vez consegui, não só vê-lo de pertinho, mas toca-lo, fotografa-lo e ser fotografada com ele. E com Nelsinho, Idalininho e outros, curti aquele instante com o coração feliz.

     

    Finalmente o cortejo ganha as ruas. E vou olhando, admirando, cantando, sorrindo, fotografando. De quando em vez um mascarado se aproximava de mim e me abraçava. Velhos amigos. Novos amigos. Alguns foliões me cumprimentavam carinhosamente. Amigos do Face e leitores das minhas crônicas. Outros pediam para ser fotografados. E lá fomos nós pela cidade.

     

    O cortejo sobe a Barão e desce a Avenida. Finalmente para na Esquina do Padre. E as lindíssimas baianas fazem a sua tradicional Lavagem. Lindo demais! Alegre demais! E ainda mais emocionante, pois, exatamente ali, ao lado da casa de Franco Fernandes, eu nasci. No meio da rua. “Havia uma casa no meio do caminho”, diria o poeta Drummond. Foi demolida para abrir a avenida. Mas foi ali, exatamente ali, que eu nasci.

     

    Do desfile eu me lembro de tudo. Apaixonantes fantasias, deliciosas máscaras. Adultos e crianças se entregando às folias do Momo, mostrando enorme criatividade e vontade de ser feliz. Grupos unidos em sonhos. Sonhos isolados em fantasias individuais. Crianças encarnando personagens maravilhosos. Parecia-me que eu passeava pelo Pais das Maravilhas, pois saia de uma história de fadas e entrava numa de terror. Depois deparava-me com o mundo da TV ou dos Games. A alegria se esparramava pelas ruas como se fosse realmente um reinado momesco, fantástico, magnífico.

     

    Chega a hora da premiação. Muito difícil julgar. Queria cair fora, mas assumira um compromisso e subi no trio para o final. Comissão de três... dois jovens contra uma mulher madura, vivida, mas ainda repleta de sonhos e ideais. Fui voto vencido em quase tudo. Enxergamos por diferentes prismas. Mas também amei os premiados. Do mais sofisticado ao mais simples.

     

    Devolvi a prancheta e a caneta a Nelsinho e lhe disse que foi a primeira e última vez que fiz parte do distinto júri. Não vale a pena. Premiaria muitos mais, pois todos estavam lindos. Havia criatividade, beleza, encanto, fascínio, luz, alegria em cada um. Para mim não houve vencedores nem perdedores, pois todos, sem exceção, mereceram meu aplauso! Premiar apenas alguns foge completamente da minha maneira de ser.

     

    E a folia seguiu noite afora. Abracei amigos. Conheci pessoas lindas. Adorei estar no meio do povo da minha Caetité! Sou mais uma na multidão daquela “terra entre serras”, mas mais uma que ama cada pedacinho de rua, que tem lembranças dos vinte anos que ali morei e que nunca esqueci. Sou, quando ali chego, a “Lulu de Tobias”, a menina tímida que morava na 2 de Julho e que tomava sorvete, dirigia desde os quatorze anos, subia a Avenida com sol ou neblina para assistir aulas no IEAT... Quando, no domingo à noite, tomei o ônibus de volta, meu coração estava asserenado, embora cheinho de saudade!

     

    Valeu Caetité! Valeu Zé Barreira, nosso Carnaval da Diversidade é lindo! Valeu Nelsinho e equipe, a Lavagem da Esquina do Padre tem muito brilho! Parabéns meu povo! Caetité é, realmente, uma CIDADE FELIZ!

     

    Luzmar Oliveira – [email protected] – WhatsApp: 71-99503115 / 71-87247161

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